Adalberto da Costa Júnior, presidente da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, afirmou hoje que a remodelação do Governo angolano, embora profunda, deixou de fora um sector estratégico como a economia e considerou que o excesso de mudanças revela “insegurança”. De facto, quantidade não significa qualidade e João Lourenço continua a não ter dúvidas quando tem de escolher entre néscios do MPLA e génios apartidários. Escolhe os seus…
“T rata-se de uma profunda mexida, com excepção da liderança da área estratégica de carácter económico que, pela inexistência de resultados, é surpreendente que não tenha sido tocada”, assinalou o líder da UNITA, salientando que “não tem havido ganhos no plano económico” nem diversificação da economia. É verdade. E não tem havido diversificação da economia porque, há 45 anos, Angola é governada por um partido cleptocrático e petróleo-dependente.
O responsável da UNITA manifestou também dúvidas sobre mexidas “em tantos ministérios numa fase destas, de luta contra um inimigo público” como a Covid-19. Mas está enganado. Que melhor altura para lançar mais uma cortina de fumo (que às vezes é de ferro) do que esta? Quando os angolanos começam a ter noção de que ou morrem de fome, de Covid-19, ou dos dois juntos, João Lourenço lança para a ribalta mais uma dose industrial de exonerações que, contudo, mais não são do que trocar seis por meia dúzia.
“Numa fase destas uma profunda mexida, um começar do zero em muitos sectores não sei se é muito avisado”, declarou Adalberto da Costa Júnior, criticando as constantes alterações no elenco governamental, que, considerou, demonstram insegurança. Não é insegurança. É tão simplesmente incompetência de quem se assume como único dono da verdade, de dono e senhor de um regime esclavagista.
“Praticamente de dois em dois meses vemos movimentos de ministros, isto demonstra uma grande insegurança de quem está a dirigir, não tem certezas do que está a fazer”, criticou Adalberto da Costa Júnior, frisando que “não é bom para o país”, porque “não há estabilização” e os ministros não têm tempo de ver resultados. É claro que o Presidente do MPLA se está nas tintas para o que os angolanos pensam, a ponto de – presume-se – equacionar a repescagem da estratégia do mais emblemático herói do seu partido, levada a cabo no dia 27 de Maio de 1975.
“Tudo isto custa dinheiro ao Estado e, por isso, a minha análise não é muito positiva”, afirma Adalberto da Costa Júnior. É verdade. Mas dinheiro só é um problema para a maioria dos angolanos (entre os quais os nossos 20 milhões de pobres), e não para o dono disto, João Lourenço, e seus sipaios. De quem é a Sonangol? De quem é o Banco Nacional de Angola? De quem é o Fundo Soberano? De quem é tudo o que dá dinheiro?
Quanto aos benefícios de reduzir o número de ministérios de 28 para 21, o líder da UNITA diz que só haverá respostas no futuro: “Houve emagrecimento ou apenas diminuição de titulares? Os ministérios mantêm a sua carga de pessoal, juntam-se ministérios com o mesmo número de funcionários? Então não há emagrecimento, esse é um elemento a verificar”.
Adalberto da Costa Júnior mostrou-se igualmente surpreendido por continuarem no Governo “alguns nomes muito expostos no plano público, ligados à corrupção no passado”, considerando “que há um proteccionismo à mesma junto do Governo” e que o combate à corrupção “é dirigido”.
Disse ainda recear que esta mexida seja para garantir determinados pressupostos de 2023 [ano em que se realizam eleições gerais] “para pôr algumas pedras, assegurar determinados lugares com garantia de controlo”, declarando-se “preocupado” com o modelo eleitoral que Angola tem e que, mais uma vez, terá uma sofisticada tecnologia que irá reeducar os votantes nos partidos da oposição, transformando os seus votos em votos no MPLA.
“Não é possível uma democracia subsistir quando um partido político manda no instrumento que decide os resultados das eleições”, afirmou Adalberto da Costa Júnior, numa alusão à polémica imposição do novo presidente da Comissão Nacional Eleitoral, que a UNITA contestou.
Quanto às novas caras no elenco governamental como a bióloga Adjany Costa que, aos 30 anos, assume um superministério que integra Ambiente, Cultura e Turismo, valorizou a competência, mas considerou que há “nesta postura de João Lourenço uma tentativa de ir buscar na juventude a compensação de uma perda de imagem”, sobretudo “aquela com algum protagonismo”.
O Presidente de Angola, não nominalmente eleito, divulgou a lista dos novos membros do executivo, que encolheu de 28 para 21 ministérios, destacando-se a saída de Manuel Augusto, das Relações Exteriores, substituído pelo seu secretário de Estado Tete António.
Da longa lista de exonerações divulgada pela Casa Civil de João Lourenço constam 17 ministros e 24 secretários de Estado, bem como o secretário do Presidente da República para os Assuntos Políticos, Constitucionais e Parlamentares e o director do Gabinete de Acção Psicológica e Informação da Casa de Segurança do Presidente da República.
Seja como for, parafraseando, o Presidente do MPLA, da República e Titular do Poder Executivo, se “haver” necessidade o MPLA ainda tem mais uns tantos sipaios capazes de integrar a próxima remodelação. Diríamos mesmo que este é um “compromíssio” sagrado para João Lourenço.
Folha 8 com Lusa